Há alturas em que não sabemos para que lado nos virar e o que fazer daí para a frente... Acontece a toda a gente, mas não como me acontece a mim!
Vivo em constante negação, em constante duvida. A maioria das vezes (isto para não dizer todas) acabo por fazer asneira, 1º porque faço sempre o contrario daquilo que me dizem para fazer e 2º porque isso me traz alguma emoção. É doentio?? Eu sou doentia!!!
Começo a frequentar consultas de psiquiatria, desisto e passo para consultas de disturbios alimentares no Hospital, desisto porque não gosto que as minhas consultas sejam assistidas por estagiárias mais novas do que eu, que ficam a olhar para mim com pena e medo de se tornarem assim, e depois porque não consigo ser sincera, simplesmente não consigo. Começo a frequentar consultas de psicoterapia, acho que não vou ser sincera outra vez e desisto mais uma vez de tudo. Arranjo desculpas para não ir e quando me perguntam como vão as consultas, já passou tanto tempo que tenho vergonha de lá voltar e pedir desesperadamente desculpa... Claro que nas consultas de disturbios alimentares no hospital tinha sempre a hipotese de dizer que não queria que fossem assistidas, mas como em tudo, nunca há problema, mostro o meu maior sorriso e faço de conta que está tudo bem..... Sou realmente uma MERDA!
Mas será que quero que tenham pena de mim, que me abracem, que se dediquem a mim a todas as horas do dia??? Sou completamente dependente da aprovação dos outros. Gosto de me sentir integrada, gosto de sentir que gostam de mim, entro em pânico só de pensar que possa dizer alguma coisa e que fiquem chateados comigo. Mas o problema aqui está em que nunca acredito que algume possa mesmo gostar de mim, vejo segundas intençoes por todo o lado, e acho sempre que fiz ou disse alguma coisa de mal.... Sofro por antecipação, sofro por ter a certeza que as pessoas tem é pena de mim, não vontade de estar comigo na realidade.
Sou completamente obcessiva com o meu namorado. Tenho uns ciumes doentios até dos amigOs. Acho sempre que ele tem mais motivo de conversa com as outras pessoas, critico o facto de saber sempre tudo depois, e fico de boca aberta quando sei de algumas coisas (que apesar de não terem importancia nenhuma) ele conta a toda a gente ao mesmo tempo incluindo a mim. Queria que ele vivesse dedicado a mim, tal como eu faço com ele. Não saio, não tenho amigos fora do nosso circulo de amizades, acho sempre que ele faz muito menos do que eu e pior ainda, duvido constantemente do que ele sente por mim. Sou choca, estou sempre a reclamar de tudo, apesar de saber que isso sim é que vai ser capaz de o afastar... Secalhar é isso que eu quero... tornar-me numa pobre coitada de quem toda a gente tem pena! É isso que eu sou, uma pobre coitada, mas não mereço que tenham pena de mim, porque tenho todas as oportunidades para ser feliz e me afirmar, simplesmente não as agarro (ou não as quero agarrar!).
Sou um poço de defeitos.
O meu pai nunca quis saber de mim, usava-me como uma peça de um jogo para atormentar a vida da minha mae, lembro-me perfeitamente de estar no quarto fechada as escuras com ele à porta à espera a dizer que eu não saia de lá enquanto não lhe dissesse que a minha mae estava com outros homens, sim, porque segundo ele, tinha provas que até me podia mostrar, em como a minha mae andava enrolada em quartos de pensão de 2ª com outros homens, e que eu era uma mentirosa que não queria assumir isso. Esforçava-me para o agradar, tinha medo dele, odiava o ter que ir para casa dele de 15 em 15 dias e mesmo assim ninguem fazia nada por mim. Tive que aprender a fazer de conta que estava tudo bem, tive que começar a criar a tal mentira que sou hoje, sempre que ouvia a voz irritante da minha avó aos Sabados às 10 da manha "Tânia Andreiiiiiiia". Odeio o meu nome à custa disso! Odeio sequer lembrar-me desses episódios aterradores da minha vida. Os Domingos à noite eram um alivio, regressar a casa da minha avó materna, sair daquele inferno, não ter que o ver pelo menos durante 15 dias! Dava-me na altura 100 escudos para lhe ligar durante a semana quando a obrigação dele era ser ele a ligar-me e não colocar a responsabilidade nas mãos de uma criança de 6, 7, 8... anos com uma moeda de 100 escudos. ODEIO-O!! Nos 15 dias seguintes até nova dose de "terror" os dias corriam normalmente, ou melhor dizendo, corriam na normalidade que eu criei... Aquele fim de semana era sempre um pesadelo que eu queria esconder e não pensar mais... pelo menos até ao proximo. Entretanto a minha mãe, que até ali se dedicava a mim a 100% encontra outra pessoa. Alguem com um feitio muito especial que fui descobrindo aos poucos. Era divorciado, com uma filha 2 anos mais nova do que eu. O pesadelo passou a estender-se tambem a esses 15 dias em que não via o meu pai. O meu padrasto é uma pessoa que EXIGE toda a atenção de toda a gente, é um frustrado por assim dizer, e resolveu um belo dia descarregar as suas frustrações numa criança insegura que o admirava (leia-se tinha medo tambem dele). Ora o estar em casa não era estar em casa, passo a explicar, a casa era dele, as coisas eram dele e eu era uma mera hospede que não podia sequer reclamar porque viver ali era uma dádiva. Ninguem me queria, portanto a minha unica opção era viver ali, segundo as regras deles, deles porque a minha mãe entrou na jogada e eu deixei de ser o centro da vida dela para passar a ser o "pendura" chato de quem nos queremos livrar rápido. Ela tinha uma vida nova, eu era um problema. Quebrei todas as regras que havia para quebrar. Adorava-os e amava-os ao mesmo tempo, droguei-me, começando por uns charros, coca, pastilhas e por ai fora. Sentia-me amada pelas pessoas com quem convivia e a droga era um refugio seguro para a vida que tinha depois de entrar no nº 154 daquela rua. Comecei a sair à noite cedo, a namorar e a namoriscar. Tornei-me numa pessoa com sede de atenção, que era capaz de tudo para sentir que era amada. Deixei a escola para trabalhar. Dava dinheiro em casa porque ali era uma hospede (miuda, não te esqueças!!) Comecei a viver uma vida de adulta com 16 anos, em que não ia as aulas (apesar dos meus brilhantes 18 e 19), só pensava em noite, drogas, e trabalho no dia a seguir. Odiava o meu corpo, como ainda odeio hoje, mas posso dizer que foi uma época feliz. Fartei-me de fazer merda, só pensava em mim, porque a droga servia para isso mesmo, era a maior da minha Rua. Aos 19 (acabadinhos de fazer) sai de casa. Nesse fim de semana que antecedeu a minha saida, como nunca tive chave de casa e a minha mae não estava cá, passei a noite em casa de uma amiga, sem que a minha mae soubesse sequer onde eu ia ficar... Que raio de mae faz isto a uma filha???? Mas não, a culpa era minha porque sempre mostrei que estava tudo bem... Eu é que chegava tarde a casa, bebada e drogada, eu é que era a má da fita.
Saí de casa!! :)
O resto da historia fica para outra altura.
Continuo a achar-me uma merda mesmo depois de falar sobre isto... e há tanto que ficou por dizer... Quem foi o espertinho que disse que me ia fazer melhor???